segunda-feira, janeiro 19, 2009

A insustentável leveza do ser [parte 2]

Bem, falava eu do mito do eterno retorno idealizado por Nietzsche, e repito, deixou muita gente angustiada, inclusive eu.
Lembrei-me de um caso da minha infância, lá por volta dos meus sete ou oito anos quando estava brincando com um grupo de amigos. Sabe um daqueles dias que você moleque ou moleca, fica o dia todo na rua, vai do pique-esconde ao pega ladrão, do futebol ao volei, da bandeirinha a salada mista, do suor, sujeira ao banho de borracha? Pois é, foi um desses dias que as horas pareciam durar uma eternidade para passarem (tempo bom).

Em determinado momento eu pensei e disse: __ Bem que esse dia poderia se repetir várias vezes, né? Seria maravilhoso, leve e tranquilo. Será mesmo?


Não por mal, mas vejo hoje que se cada segundo de nossa vida deve se repetir um número infinito de vezes, estamos pregados na eternidade como Cristo na cruz. Que idéia atroz! No mundo do eterno retorno, cada gesto carrega o peso de uma insustentável leveza. Isso é o fazia com que Nietzsche dissesse que a idéia do eterno retorno é o mais pesado dos fardos.


Se o eterno retorno é o mais pesado dos fardos, nossas vidas, sobre esse pano de fundo, podem aparecer em toda a sua esplêndida leveza.


Mas, na verdade, será atróz o peso da leveza?

O mais pesado fardo nos esmaga, nos faz dobrar sob ele, nos esmaga contra o chão. Na poesia amorosa de todos os séculos, porém, a mulher deseja receber o peso do corpo masculino. O fardo mais pesado é, portanto, ao mesmo tempo a imagem da mais intensa realização vital. Quando mais pesado o fardo, mais próxima da terra está nossa vida, e mais ela é real e verdadeira.


Por outro lado, a ausência total de fardo faz com que o ser humano torne-se mais leve do que o ar, com que ele voe, se distancie da terra, do ser terrestre, faz com que ele se torne semi-real, que seus movimentos sejam tão livres quanto insignificantes. Talvez algo platônico para muitos!


E então, o que escolher? O peso ou a leveza?

Foi a pergunta que Permênides fez a si mesmo no século VI antes de Cristo. Segundo ele, o universo está dividido em duplas de contrários: a luz e a obscuridade, o grosso e o fino, o quente e o frio, o ser e o não ser. Ele considerava que um dos polos da contradição é positivo (o claro, o quente, o fino, o ser), o outro, negativo. Essa divisão em pólos positivo e negativo pode nos parecer de uma facilidade pueril. Menos em um dos casos: o que é positivo, o peso ou a leveza?


Permênides respondia: o leve é positivo, o pesado negativo. Teria ou não razão? Essa é a questão. Uma coisa é certa. A contradição pesado-leve é a mais misteriosa e a mais ambigua de todas as contradições.

Espero não ter desapontado com a segunda parte, mas acredito que ficou bom!

2 Comenta aí po!:

Fabiano Barreto disse...

Sim, senhor! Ficou bacana!

(Mas acho que é P[a]rmênides).

Abraço!

Fabrício Sales disse...

É isso mesmo. Liga não esses erros tem acontecido frequentemente.

grande abraço irmão!!!