O homem se aproxima, acompanhado do bafo de bebida.
- Posso falar um instantinho com o senhor? - pergunta.
- Só não me venha pedir dinheiro - respondo.
- Não, é que eu estava precisando completar a passagem.
- Não tenho, não - encerro a conversa, me afastando rapidamente.
- Posso falar um instantinho com o senhor? - pergunta.
- Só não me venha pedir dinheiro - respondo.
- Não, é que eu estava precisando completar a passagem.
- Não tenho, não - encerro a conversa, me afastando rapidamente.
Tento justificar para mim mesmo minha rispidez. Ele falou que o assunto não era financeiro, mas tratava-se obviamente de dinheiro. Além disso, cheirava a bebida. Mas nem por isso eu precisava ser tão rude.
É difícil dar alguns passos no Rio sem ser abordado por alguém. Um menino de rua, um mendigo, um entregador de folheto. Quando é dinheiro, damos alguma das seguintes desculpas clássicas, nenhuma delas plenamente justificável.
É difícil dar alguns passos no Rio sem ser abordado por alguém. Um menino de rua, um mendigo, um entregador de folheto. Quando é dinheiro, damos alguma das seguintes desculpas clássicas, nenhuma delas plenamente justificável.
- Não tenho (em geral temos algum).
- Desculpe, estou sem trocado (ele sabe que pelo menos uma moedinha a gente deve ter).
- Fica para a próxima (como se algum dia fôssemos revê-lo).
- Vou ficar devendo (como se ele fosse cobrar depois).
- Sinto muito (como se realmente sentíssimos tanto assim).
- Tá ruim pra todo mundo (de fato, mas para ele está bem pior).
- Tá feia a coisa (está mesmo, mas não serve de consolo).
- Desculpe, estou sem trocado (ele sabe que pelo menos uma moedinha a gente deve ter).
- Fica para a próxima (como se algum dia fôssemos revê-lo).
- Vou ficar devendo (como se ele fosse cobrar depois).
- Sinto muito (como se realmente sentíssimos tanto assim).
- Tá ruim pra todo mundo (de fato, mas para ele está bem pior).
- Tá feia a coisa (está mesmo, mas não serve de consolo).
No livro "No olho da rua", Marcelo Antonio da Cunha conta que na sua infância, no Recife, a mãe ensinou-lhe a pedir desculpas aos mendigos.
- Me dê uma esmola, pelo amor de Deus.
- Perdoe-me - ele respondia.
- Amém.
- Me dê uma esmola, pelo amor de Deus.
- Perdoe-me - ele respondia.
- Amém.
Trinta anos depois, ele já tinha substituído o "perdoe-me" pelo "estou sem trocado". Seu filho quis saber por que ele mentia para os pedintes. Marcelo explicou que era para não estimular a permanência deles nas ruas.
Mas ele se tornou diretor da Fazenda Modelo, um abrigo destinado à população de rua. Ali, descobriu o inferno, e sentiu necessidade de pedir novamente perdão, pela forma como são tratados os que estão à margem.
Não chego a tanto, mas confesso que volta e meia bate uma pontinha de culpa quando fecho a cara e digo "não tenho" diante de mais um pedido.
A verdade é que ninguém está muito a fim de ouvir estranhos. Andamos tão sobressaltados que uma aproximação mais brusca já intimida. O rapaz estava no ponto de ônibus quando um mendigo se aproximou e falou algo. Antes mesmo de ouvir o que estava sendo dito, ele respondeu:
- Não tenho.
- Não tenho.
Foi uma reação automática. O homem insistiu e ele cortou novamente:
- Tô sem trocado.
Até que o desconhecido se irritou.
- O senhor escutou o que eu falei? Eu disse "bom dia e boa viagem”.
- Tô sem trocado.
Até que o desconhecido se irritou.
- O senhor escutou o que eu falei? Eu disse "bom dia e boa viagem”.
Nem todo mundo faz como uma amiga, que resolveu perguntar a um mendigo qual era o seu sonho.
- Uma porta - ele respondeu.
Parece pouco para quem está sempre com uma maçaneta à mão. Mas não para quem vive nas ruas.
- Uma porta - ele respondeu.
Parece pouco para quem está sempre com uma maçaneta à mão. Mas não para quem vive nas ruas.
Achei muito interessante e peguei essa história de:...................................... http://oglobo.globo.com/rio/ancelmo/dizventura/
A fotinho é do google mesmo!!!
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