Queria começar esse texto comentando que Saramago* questiona Deus como o conhecemos, mas seria minha maneira hipócrita de omissão. De atribuir a ele responsabilidade e culpa. Livrar-me de algum fogo infernal, de todos os males, amém.
Aprendi desde muito pequeno, entre orações, e algumas músicas – “... minha culpa, minha culpa, minha culpa”, a não duvidar, a temer. Mas a idade do questionamento veio cedo. Não precisei de muito tempo para entender que meus mestres de escola bíblica e pastores não podiam me ensinar nada sobre deuses humanos. Sobre guerras santas, sobre escrituras bíblicas pregando um deus vaidoso e vingativo.
- Abrãao, oferece teu filho, Isaac, em sacrifício, como farei com o meu.
- Pelo teu erro, Eva, darás a luz com dor e serás submissa a teu homem.
Que grandes pecadoras são essas mulheres modernas, esses homens, inventores de facilidades para o que deveria ser eternamente penoso.
Ao darmos à luz, deus, o amaldiçoamos com a natureza humana e o tornamos tão frágil e mortal que nos reconhecemos nele. Podemos chamá-lo de pai, consentir a própria condenação.
Perdoem-me, também aprendi a não discutir religião, a respeitar as escolhas individuais, mas é por essa liberdade de livre escolha que preferi não pregar mais nos púlpitos a fé de meus mestres; professores e pais (minha mãe que se escandaliza agora com o que não a faço compreender).
A minha escolha não me tornou herege, ignorante da complexidade que sou; impossível de qualquer invenção humana capacitada apenas para geração de deuses.
Não Creio no Deus que os homens fizeram, Creio no Deus que fez os homens.
Aprendi desde muito pequeno, entre orações, e algumas músicas – “... minha culpa, minha culpa, minha culpa”, a não duvidar, a temer. Mas a idade do questionamento veio cedo. Não precisei de muito tempo para entender que meus mestres de escola bíblica e pastores não podiam me ensinar nada sobre deuses humanos. Sobre guerras santas, sobre escrituras bíblicas pregando um deus vaidoso e vingativo.
- Abrãao, oferece teu filho, Isaac, em sacrifício, como farei com o meu.
- Pelo teu erro, Eva, darás a luz com dor e serás submissa a teu homem.
Que grandes pecadoras são essas mulheres modernas, esses homens, inventores de facilidades para o que deveria ser eternamente penoso.
Ao darmos à luz, deus, o amaldiçoamos com a natureza humana e o tornamos tão frágil e mortal que nos reconhecemos nele. Podemos chamá-lo de pai, consentir a própria condenação.
Perdoem-me, também aprendi a não discutir religião, a respeitar as escolhas individuais, mas é por essa liberdade de livre escolha que preferi não pregar mais nos púlpitos a fé de meus mestres; professores e pais (minha mãe que se escandaliza agora com o que não a faço compreender).
A minha escolha não me tornou herege, ignorante da complexidade que sou; impossível de qualquer invenção humana capacitada apenas para geração de deuses.
Não Creio no Deus que os homens fizeram, Creio no Deus que fez os homens.
José Saramago (16 de Novembro de 1922 — 18 de Junho de 2010) foi um escritor, argumentista, jornalista, dramaturgo, contista, romancista e poeta português.
Foi galardoado com o Nobel de Literatura de 1998. Também ganhou o Prémio Camões, o mais importante prémio literário da língua portuguesa. Saramago foi considerado o responsável pelo efetivo reconhecimento internacional da prosa em língua portuguesa.